A noite adentra, os passos do antigo
deus são lentos, mas constante. Sua presença aniquila os traços de lucidez da
maioria das pessoas, inicia-se uma onda de caos na cidade de Tóquio.
Um grupo vira dois carros de polícia, obrigando
os agentes da lei a se defenderam; bancos e lojas são violados; uma loja de
eletrônicos é invadida, um jogo da Sailor V é destruído.
O caos cessa com a presença da antiga
deidade, como num ritual religioso as pessoas começam a dançar, assim o caos dá
lugar a uma nova ordem.
Honoka e Shinnosuke caminhavam pela
parte ainda civilizada da cidade, quando ouvem os gritos. Ambos seguem o som e
alguns minutos de caminhada depois presenciam a procissão.
A visão do antigo deus faz Honoka
gritar, ela tenta se debater, mas é amparada por seu amor. Em falas vagas ela
pronuncia o nome do ser ancestral:
- XXX está indo para seu templo.
Shinnosuke observa a criatura,
reconhece os traços desenhados no monolito e no painel de pedra.
Ele chacoalha a garota, que volta a si.
- O que está acontecendo?
- O que você estava dizendo?
- Um desamparo tomou conta de mim, o
que foi aquilo que eu vi?
- Temo que nosso surto de sinceridade
não tenha sido provocado apenas pelo álcool. Nós podemos ter acordado uma
criatura muito antiga.
- O museu! - Honoka tem uma epifania,
provocada pela rápida experiência abominável - Ele está indo para o seu
templo.
Os dois se olham assustados.
- Você descreveu um ritual.
- Sim, um ritual da fertilidade.
Os dois correm para o museu,
conseguindo ser muito mais rápidos que a multidão, que agora dança nua, se
beija e faz sexo no meio da rua, sobre os carros.
Enquanto o casal corre rumo ao museu,
ainda sem saber se poderá fazer alguma coisa Akeno encontra-se em uma situação
bem diferente.
Ela está na casa do rapaz com quem
bebia, os beijos libidinosos ficam um tanto intensos. O som de cantos vindo da
rua invade a pequena casa e o rapaz de descontrola, rasgando as roupas dela.
Akeno consegue se desvencilhar com um
chute no peito, ela defende-se do rapaz com utensílios que estão ao alcance de
suas mãos, mais pessoas entram na casa. Akeno consegue fugir para a cozinha,
depois para um quarto por onde pula a janela.
Ela observa uma pequena procissão
passando, assustada mistura-se as pessoas que cantam e dançam até passarem por
um hospital onde ela entra.
O local encontra-se deserto, alguns
agentes da saúde escondem-se em salas, os pacientes impossibilitados de se
locomover cantam nos leitos.
Akeno entra em um consultório, onde faz
uma barricada na porta, ela usa seu celular, tentando entender o que acontecia.
Uma reportagem local mostra a massa de pessoas rumando ao museu cantando de
maneira delirante.
No lado de fora do museu.
- Como vamos entrar?
A pergunta de Shinnosuke se responde
com a visão do museu de portas abertas, inúmeras pessoas entram pelas portas.
Depois do primeiro surto estão inofensivas.
Shinnosuke segura a mão de Honoka, os
dois trocam olhares e correm para o salão onde seria feito a exposição no dia
seguinte.
O monolito encontra-se intocado, as
pessoas respeitam um círculo, os dois painéis de pedra caídos no chão, como se
violassem um altar sagrado com sua presença.
- Melhor darmos a volta.
Shinnosuke concorda, a passividade
daquelas pessoas pode acabar a qualquer momento, eles circulam a demarcação,
passam pelas pessoas com muito esforço, até alcançarem a porta que leva às
salas exclusivas para funcionários.
Os corredores estão desertos, os dois
alcançam a sala em que Shinnosuke traduziu os hieróglifos.
- Alguma ideia?
- Não sei se fico mais assustado ou
animado.
- Você sempre foi estranho.
- Aquela coisa que nós vimos deve ser
um tótem, culturas antigas cultuavam animais totêmicos, eram criaturas que
simbolizavam uma ideia de união, de identidade.
- Ter um totem significa pertencer a
uma aldeia, gradativamente as aldeias foram se unindo e juntando totens,
criando quimeras ou construções fálicas, a humanidade foi se desenvolvendo, as
crenças se refinando. Não precisa explicar essa parte.
- Até agora todos nós acreditávamos que
era um simbolismo, grupos adotavam um animal para cultuar tentando pertencer a
um grupo, não é diferente do que fazemos hoje com relação a moda, cultura ou
ideologia política.
- Então aquela coisa é um Tótem, ele
nasceu de inúmeras miscigenações?
- Se for, temos que nos perguntar por
que ele está aqui?
- É isso, uma vez ao ano os grupos se
juntavam para festejar em um ritual sagrado para gerar um novo tótem, o
objetivo era uma catarse que trazia mais um ano de paz entre as aldeias.
- Se for isso temos que resistir até o
final da cerimônia.
Honoka olha em seu relógio, são cinco
horas da manhã, logo o sol deve nascer.
O antigo deus chega ao museu, as
pessoas abrem espaço respeitosamente, a euforia deu lugar a solenidade. O ser
se enrola no monolito, o afagando.
A criatura inominável estanca,
instintivamente tem seu olhar é atraído para uma pessoa. Yumi, trajando apenas
uma camiseta antiga e sua calcinha, que normalmente usa para dormir, ela
caminha até o centro do círculo.
A professora para a frente do monolito,
o inominável aproxima-se, a segurando com suas garras. A jovem professora
acaricia a criatura, que responde urrando. O deus rasga a camiseta dela.
Yume é erguida pelo antigo deus, que a
ostenta pelas torneadas coxas, em seguida a deita no chão, sua língua percorre
a barriga branca da moça, circunda seus pequenos seios, sobe pelo pescoço. Com
a outra garra arranca sua calcinha.
Dois pênis saem de dentro da criatura,
penetrando Yume, que finalmente encontra satisfação sexual, ela segura as
costas viscosas do ser que a penetra com seus membros tentaculares.
O deus fica ereto, enquanto os órgãos
adentram a garota que se contorce em desejo e satisfação, seus gemidos ecoam na
cidade silenciosa.
O acasalamento termina com o nascimento
de um novo dia, o sol não consegue atravessar as densas nuvens, o dia está
cinza.
O antigo deus sente-se fraco, ele cai
deitado no chão.
Yume recobra a razão, seu olhar reflete
confusão, mas logo ela descobre-se nua em meio a uma multidão, tenta fugir, mas
cai de joelhos sentindo fortes dores.
Ela e a criatura gritam de dor, Yume de
contorce no chão urrando.
Honoka, que assistiu o ritual com seu
amado menciona ir ajudar, mas é segura por Shinnosuke.
A jovem professora grita mais uma vez,
sua dor amplia, o barulho de ossos quebrados podem ser ouvidos, de dentro da
professora surge um filhote, que esfomeado devora sua mãe ainda viva.
O antigo deus cai exausto, os presentes
o atacam desmembrando e devorando seu corpo.
Ao final do ritual o novo deus, recém
nascido, mas já articulado percorre o caminho de volta ao oceano.
Aos poucos a cidade volta ao normal,
aqueles que celebraram a cerimônia pagã entreolham-se sem saber se tentam
esquecer ou entender.
Akeno e os demais que se esconderam
saem instintivamente às ruas se fazendo a mesma pergunta.
Nenhum deles parece ter palavras para
descrever o ocorrido.
Honoka e Shinnosuke estão abraçados na
sala de estudos, ainda se recuperando da terrível visão.
- Acabaou, Shinnosuke?
- Acho que sim, ao menos até o ano que
vem.
- Por que nós não fomos afetados como
as outras pessoas?
- Não sei, Na noite passada nós olhamos
para dentro de nós mesmos e fomos obrigados a enxergar uma parte obscura que
preferimos evitar.
- O conhecimento salva.
O neonato deus ancestral alcança a baía
de Tóquio, pesando em restos oceânicos que emergiram da profundeza do oceano
ele alcança a água, onde retorna a sua existência latente.
FIM