domingo, 4 de dezembro de 2022

O Boneco de Neve

 


As long as you love me so/Let it snow, let snow, let it snow

A tradicional música natalina ecoa pela casa luxuosa de dois andares, uma foto de um casal (ele mais velho) decora a parede. 

Móveis cuidadosamente arrumados, a janela da frente dá para um jardim, coberto de neve, flocos brancos caem em harmonia, um boneco de neve se destaca. A construção infantil é particularmente robusta, com quase dois metros de altura, dois olhos escavados na esfera superior, com ameixas cravadas bem fundo e um nariz pontiagudo de cenoura dão um aspecto inquietante.

O boneco possui outro diferencial, está olhando para casa, geralmente esses bonecos são feitos olhando para a rua, mas esse tem seu campo de visão voltado para a grande janela da frente, observando o que acontece dentro da casa.

Dentro da residência Wanda termina de se arrumar, ela fecha o zíper de um vestido vermelho, decotado. Um pouco sexy demais para um natal em família, felizmente para ela aquele não seria um natal em família.

A loira cantarola “Let snow, let it snow”, se olha no grande espelho, ajeita o seu decote, analisando os fartos seios e a cintura fina: “Todo o caminho da casa estará quente”.

Ela sorri de forma maliciosa, quando ouve a campainha tocar, uma última olhada no espelho, que termina no vislumbre de um porta retrato, de Wanda com seu marido na Itália, uma viagem especial e divertida. Seu sorriso desaparece, ela o deita com a fotografia para baixo e desce as escadas correndo, quando a campainha toca novamente.

Wanda chega à porta, olha pelo olho mágico, seu sorriso desaparece, ao abrir a porta se depara com um homem de uniforme.

- Boa noite.

- Boa noite madame e feliz natal. Sou Nicolau, da companhia elétrica…

- Nicolau?

Ela não consegue esconder a expressão de estranhamento, já o homem parecia estar acostumado.

- Eu nasci na noite de natal e meus pais pensaram que seria uma boa homenagem, o que não funcionou. Além dos anos de bullying, ganhava apenas um presente de natal e aniversário.

- Sinto muito.

- Obrigado, bom madame trago más notícias, a nevasca causou avarias no sistema de fornecimento de eletricidade, mas estamos trabalhando nisso.

- Teremos um natal a luz de velas?

- Espero que não, mas as luzes podem piscar algumas vezes, então não se preocupe e use trancas manuais, além do sistema de segurança habitual.

- Muito obrigada e feliz natal.

- Obrigado.

Nicolau já estava voltando para seu carro, quando interrompe a caminhada, gira sobre os calcanhares e fala alto, quase gritando, mas mantendo sua educação.

- Lindo boneco de neve.

- Como?

- Lindo boneco de neve.

- Obrigada, acho que as crianças da vizinhança o fizeram.

Nicolau entra no carro e parte, Wanda caminha pela calçada, sentindo os flocos de neve nos seus braços nus, ela olha o boneco de neve com cuidado, algo a assusta nele.

- Pensei que as crianças dos vizinhos estivessem viajando.

Ela olha em volta, de fato muitas casas estavam com luzes apagadas, a excessão de um vizinho distante, nessa vizinhança as casas são grandes, com belos e largos jardins, visitar a casa mais próxima demanda uma pequena caminhada.

Por que as crianças do vizinho iriam tão longe para fazer um boneco de neve? Sem resposta Wanda deixa sua sensação de lado e entra na casa, onde estava quente, ela olha para o quadro pendurado na parede, relembrando uma conversa de uma semana atrás volta a sua mente:

 

- Eu sinto muito querida, queria um natal em família, mas os chineses não são ligados em Jesus.

- Não tem problema, sei que é seu trabalho.

Ele beija sua esposa, que retribui com os olhos abertos.

 

Sua memória é cortada com o som da campainha, Wanda abre a porta, onde vê Brad.

O jovem e bonito Brad, o musculoso e charmoso Brad, que a beija enquanto a envolve em seus braços, a girando contra a parede, enquanto bate à porta com seu pé.

Os dois se beijam, com Wanda prensada contra a parede, enquanto Brad aperta a cinturinha dela, Wanda acaricia os cabelos dele, fazia tempo que não se sentia tão excitada, tão desejada, recuperando fôlego ela fala.

- Boa tarde.

- Feliz natal.

A loira se desvencilha, afastando o corpo sarado de seu amante, porém não consegue ir muito longe, Brad a envolve a encoxando contra a parede, beijando seu pescoço, enquanto acaricia os enormes seios dela, os dois se beijam, com Brad a jogando contra a parede, uma de suas mãos adentra o decote, tirando o seio dela para fora, a outra adentra o vestido.

- Calma… Eu me arrumei toda.

- E está deliciosa.

Ele a vira de novo, se ajoelha, leva suas mãos para debaixo do vestido de Wanda, retirando sua calcinha devagar, ela morde os lábios, excitada e ansiosa, Brad começa o sexo oral.

A loira estica os braços para cima, tentando se segurar em alguma coisa, mas não encontra nada, suas pernas ficam bambas, enquanto ele explora sua intimidade com a língua.

- Ai… quanto tempo…

Ele se afasta, se sentando no sofá, Wanda retira a calcinha, anda até ele, abaixando a calça do rapaz e montando sobre seu membro.

Ela cavalga com força, segurando o sofá com firmeza, Brad abaixa de uma vez o vestido dela, olhando seus seios, “eu sonhei com eles”, o rapaz acaricia chupando os belos seios da moça, que reclina seu corpo para trás em um orgasmo.

Algum tempo depois ela deixa o corpo cair para o lado, cansada. Os dois se olham e trocam um beijo apaixonado.

- Estava com saudade.

- HAHAHA eu percebi, também estava, querido. Teve problemas?

- Não, avisei que estava sem voos para essa semana.

As luzes se apagam, os dois olham assustados em volta, Wanda levanta-se com alguma dificuldade e veste novamente o vestido.

- Um homem da companhia elétrica veio aqui mais cedo, ele disse que as luzes poderiam apagar, vou acender algumas velas.

- Wanda - ele espera a loira olhar para ele - você está linda. Adorei o vestido.

Ela sorri feliz e vai para a cozinha, enquanto Brad veste sua calça. A bela cena de um casal apaixonado tinha um espectador não autorizado, o boneco de neve está próximo a janela, imóvel, com sua expressão neutra, uma boca ligeiramente aberta e olhos profundo, quase imperceptíveis “assistiram” a cena de sexo.

Na sala de jantar Wanda acende algumas velas, as colocando sobre a mesa, Brad observa feliz, quando um forte barulho atrai a atenção dos dois.

- A porta - Brad corre até a porta da frente, para o desespero de Wanda, que tenta correr atrás dele.

- Não!!!!!

- O que foi?

- Não saia!

Wanda alcança seu amante, ela agarra seu braço e o coloca de lado, o ocultando da janela.

- E se alguém ver você?

- Desculpe.

Ela abre a porta da frente onde vê o boneco de neve tombado, sua cabeça estava estatelada contra a porta da frente, o restante do corpo igualmente caído, Wanda sai na calçada, olha para os dois lados da rua, não vê nada, nenhum rastro ou ser vivo. Enfim entra na casa, secretamente satisfeita por aquele boneco assustador ter se desmontado.

- O que aconteceu?

- O boneco de neve tombou, provavelmente era muito grande,

 

Algumas horas passaram, o jantar se tornou um amontoado de pratos sujos, a luz finalmente volta, iluminando a casa e a rua, as luzes de natal iluminam o boneco de neve, reconstruído, parado a frente da porta da cozinha.

O telefone de Wanda toca, ela atende.

- Oi querido.

Brad olha de soslaio.

- Tudo quieto, eu esquentei um pouco de peru que encomendei.

Brad sorri de forma diabólica, lentamente se aproxima de Wanda, que distraída com o telefone só o percebe, quando suas mãos envolvem sua cintura.

- Não precisa se desculpar - ela tenta afastar as mãos de Brad - eu apoio você, além disso o natal é só mais uma data - Brad segura os seios dela sob o vestido, beijando seu pescoço - mais tarde vou ver um filme, sim quando você voltar compensamos - Brad levanta o vestido dela, encoxando a bunda nua de Wanda, que estremece - Não é nada. Deve ser interferência por causa da neve - ela contém um gemido - te amo.

Ao desligar ela olha brava para seu amante, que ignora, deitando a loira com força sobre a mesa, um barulho forte ecoa na casa vazia, ela geme de prazer, quando sente seu vestido ser erguido até a cintura, Brad a penetra, com força, Wanda geme.

Ele faz forte, com a fúria da paixão, Wanda cerra seus dedos na mesa, seu corpo erguido sobre a madeira fria, Brad improvisa um rabo de cavalo nela e puxa sua cabeça com violência, a mão é arqueada para trás, enquanto geme de prazer, ela grita tendo orgasmos. A luz cai mais uma vez.

- Vou tomar um banho quente.

Enquanto Wanda sobe as escadas, Brad fecha o zíper da calça, ele começa a retirar a mesa, com intenção de lavar a louça.

Ao entrar na cozinha Brad escorrega, caindo no cão molhado. Ele olha em volta, sem descobrir de onde veio a água.

O rapaz tenta se equilibrar, percebendo que a água vem da parte de baixo da porta trancada.

Atrás dele o boneco de neve toma forma, os buracos de seus olhos estão ainda mais fundos, com dois pontos negros, intensos e cruéis.

Brad sente algo estranho atrás de si, tremendo o pior se vira, “WTF?” quando vislumbra o boneco de neve, ele dá um passo cuidadoso até a construção infantil, estende seu braço direito até o boneco, tocando a esfera do meio.

O rapaz vasculha sua mente em busca de alguma explicação, quando constata que o boneco é gelado, feito de neve, suas dúvidas se ampliam, logo tudo cessa, a única sensação é a dor lancinante.

A esfera do meio do boneco se abre em uma boca com dentes de gele, fechando em torno da mão de Brad, decepando seu braço com uma mordida.

Ele cai no cão gritando de dor, o sangue jorra do que sobrou de seu braço, borrifando o chão e o boneco de neve, que parece se mover.

Wanda desce as escadas assustada, trajando apenas um roupão, suas fantasias mais sombrias não a prepararam para o que vê: Brad caído, com o braço decepado, na altura do cotovelo, com sangue jorrando para todos os lados.

A cena é chocante por definição, nada se compara com o que Wanda vê a seguir, o boneco desenvolve braços, erguendo um machado de gelo, com o qual começa a golpear Brad, que grita enquanto é esquartejado.

O sangue respinga no Boneco de neve, que abre sua boca, sorvendo o líquido escarlate, Brad grita em desespero, Wanda sobe as escadas correndo, tropeçando, em choque e desespero, ela se tranca no quarto, sem conseguir pensar. Algo faz seu coração parar, os gritos de Brad cessam.

- Meus Deus… - ela começa a chorar, com o corpo contra a pesada porta de madeira, Wanda tranca a porta - o que eu faço?

Ela escuta um som familiar, seu celular tocando, o som vem de longe, do andar de baixo da casa, mais especificamente da mesa de jantar, onde acabara de ter o melhor orgasmo de sua vida com Brad.

Wanda é retirada de seus devaneios, com uma sensação familiar e desagradável de água fria. Ela olha para baixo, onde vê um “rio” de água fria escorrendo para dentro de seu quarto.

Seus olhos demonstram o horror e incredulidade ao ver o boneco de neve se formar a frente dela, o ser parece sorrir, uma boca repleta de dentes de gelo se fazem.

A loira se desesperar tentando abrir a porta que trancara, um dardo de gelo atravessa a parede, Wanda abre a porta, fugindo pelo corredor, uma segunda lança de gelo atinge a parede.

Wanda rola escadas abaixo, machucando seu pé, ela manca até a mesa de jantar, onde alcança seu celular.

- 190

- Socorro! Ele matou Brad, está descendo as escadas.

- Por favor se acalme.

- AHHHH! Ele está olhando pra mim, no andar de cima, está me vendo, não consigo andar.

 

As sirenes do carro de polícia são ouvidas a distância, uma viatura faz a curva derrapando, de dentro da viatura os dois policiais veem Wanda se jogar pela porta da casa, se arrastando na neve, só de roupão.

A viatura estaciona e os dois policiais saltam da viatura, um deles abraça a loira, que balbucia palavras indecifráveis, o segundo saca sua arma, entrando na casa.

- Ele matou Brad

O policial a ajuda a se levantar, a sentando na viatura, quando os dois ouvem tiros, seguidos por um grito de dor.

Wanda grita, tentando se soltar, mas o policial a fecha dentro do carro e entra na casa, o agente da lei paralisa de medo, quando vê seu parceiro sendo devorado por um boneco de neve, suas pernas haviam desaparecido, o sangue escorre pelo chão, da cintura para cima seu rosto preserva uma expressão de horror.

O barulho de ossos sendo moídos.

O cadáver do policial é devorado pelo boneco de neve, que arremessa uma lança de gelo, que atravessa a cabeça do policial.

De dentro do carro Wanda assiste a cena e grita de terror, o boneco de neve desliza sobre a água gelada, ao atingir a calçada coberta por neve esse se ergue, uma lança de gelo atravessa o carro, saindo do chão.

Wanda abre a porta, se joga no chão e tenta correr, o boneco apenas assiste a cena, prestando atenção no comportamento de sua vítima.

Wanda cambaleia ao ver uma casa se acender, a energia voltou, ela aumenta o passo, um sorriso de esperança surge, a porta está próxima, quando uma forte dor a interrompe.

a neve sob seu pé bom se transforma em um grilhão com setas pontiagudas atravessando seu pé.

Wanda cai no chão, sentindo a neve sob ser corpo parecer viva, ela é levada até o boneco de neve, que abre sua boca, desenvolvendo dentes pontiagudos e serrilhados, ela grita, mas ninguém ouve.

Dentro da casa onde Wanda buscava ajuda um garoto está empalado por um tronco de gelo, seus pais dilacerados, a árvore de natal coberta por sangue, os gritos de Wanda mudam, ficam desesperados, agudos, finalmente ela se silencia.

 

FIM

 

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