domingo, 28 de novembro de 2021

Obsevada pela orte - Final

 


Daniele cansa de se virar na cama, ela se levanta, apenas de regata e calcinha, caminha até o estúdio onde Vincent, sem camisa, começa um novo quadro, replicando a fotografia que fez de Daniele.

Na tela seus cabelos ruivos viravam sangue, preenchendo os espaços vazios. O pintor interrompe sua obra, com olhar sério e violento encara Daniele, a ruiva devolve o olhar, retira sua regata.

- Agora estamos em pé de igualdade.

Vincent levanta-se, vai até Daniele, os dois se encaram, o pintor a joga contra a parede, beijando seus lábios, ergue os braços da ruiva, cruzando seus pulsos.

Com um movimento brusco ele arranca a calcinha dela em um puxão, rasgando a peça íntima, em seguida a joga no divã, puxando suas pernas até ele.

Daniele abaixa as calças de Vincent, em um único puxão, o pintor se debruça sobre ela, beijando e chupando seus seios, a moça passa as mãos em suas costas musculosas, ela geme com o contato dos lábios de seu amante.

A modelo trança as pernas na cintura de seu protetor, em um convite ao sexo, Vincent não decepciona, ao adentrá-la com vigor, Daniele geme de prazer, cravando suas unhas nas costas dele, gotas de sangue escorrem, um incentivo para o pintor ser mais vigoroso.

Daniene grita de tesão, a cada investida do pintor, que se desvencilha dela, os dois se encaram, algo em seu olhar não pode ser compreendido por Daniele, que inspira temor e desejo.

Vincent a levanta com violência, joga sua musa contra a parede, a encoxa, retomando o sexo, Daniele braça o concreto, tenta envolver a parede com sua perna, Vincent puxa seus cabelos, a fazendo gemer e gritar.

Com seu rosto contra a parede ela observa seu rosto na pintura ainda inacabada, Daniele goza como nunca.

- Você teve seu prazer, agora é minha vez.

Em um movimento brusco ele arremessa a moça ao chão, de bruços ela ouve uma gaveta sendo aberta, logo sente o aço gelado em seu pulso.

Daniela percebe-se algemada, Vincent bate nela, em seguida um outro tapa. Apesar do susto ela gosta e pede mais.

- Mais forte.

- Foi você quem pediu.

Ele dá vários tapas na garota, que goza mais uma vez, com os  restos da calcinha de Daniele ele a amordaça, enquanto levanta o quadril da moça, a penetrando e puxando a calcinha, com força, a cavalgando, mesmo com a boca cerrada pelo pano, pode-se ouvir os gemidos de prazer.

Minutos depois, ambos estão deitados no chão, abraçados, Daniele o encada:

- Você correu um risco, eu poderia não gostar.

- Você anseia pela submissão e pela dor, está no seu rosto.

- Tão óbvio assim?

- De todas as modelos o assassino a escolheu, você se encantou por mim, mesmo sem saber por que.

- Não entendi.

- Você é a vítima perfeita.

- E você, o que é? Um predador?

- Por que você acha que resolvi procurar pelo assassino? Porque somos iguais, não costumo dizer isso por aí, mas sou um psicopata. A diferença é que pinto, provoco as pessoas, me embebedo, essas coisas. Encontro vítimas para foder.

- E aquele quadro, “Mãe”.

- Eu amava minha mãe, a maioria das pessoas tem problemas com a sua, nunca é uma figura fácil.

- Puro marketing?

- Um pouco mais do que isso, associar a mãe com um demônio gera indignação nas pessoas, gera raiva. Existe um motivo, você sabe qual?

- Toda mãe é em parte um demônio, mas não gostamos de pensar assim.

- As pessoas se proíbem de pensar assim, isso gera raiva, gera dor, gera angústia. É aí que eu me divirto.

- Você goza como louco,vendo a dor das pessoas.

- Igual ao assassino, ele não conseguiu canalizar seu sadismo. Não achou nada e começou a matar.

- E eu? Onde eu entro nesse jogo?

- No começo, achei que poderia te usar, para chegar nele, para ver no que eu poderia ter me transformado. Depois me afeiçoei. Hoje eu gosto de você.

- Os dois se beijam.


Na manhã seguinte, dentro da agência, Robert está vestindo uma modelo com saia preta e blusa branca, Mark observa de longe, imaginando a nova exposição, quando Mako entra na cena dos dois.

- Vão repetir o figurino?

- É importante - diz Mark.

- Compõe a cena perfeita - termina.

- Deveríamos marcar uma data. Vincent está impaciente.

- Entendo - Robert não desvia sua atenção da modelo - daqui a pouco alguma celebridade faz uma merda e todos esquecem o assassinato.

- Vincent tem uma exigência.

- Os dois homens a encaram.

- Ele quer aquela modelo que estava com ele, Daniele, ao lado do quadro “Faces da Morte”.

- Por que? - Mark se indigna.

- O senso de humor dele é estranho.

- Ao sair da reunião, Mako telefona para seu chefe.

- Fiz o que pediu.

- E eles?

- Mark não gostou.

- Robert?

- Estava trabalhando, não desviou sua atenção nem um minuto.

- Algum deles se parece comigo?

- Os dois.

- Concordo.


Quinze dias se passam, um novo salão é reservado, estamos às vésperas da nova exposição, Daniele está de frente para o quadro “Faces da Morte”, ela começa a entender a pintura, mesmo assim não a teria na sala de sua casa. 

Vincent aproxima-se por trás e segura o quadril da moça, colando seu corpo ao dela, sussurrando em seu ouvido.

- Consegue ver alguma coisa?

- Tinha algo de diferente, nos rostos. Não sei o que é.

Vincent se afasta, ele vai até o quadro e fica de frente para Daniele, andando para trás, até seu rosto recobrir umas das faces da pintura.

- Seria isso?

- Eu vi o rosto dele!

- Sim, mas misturou seu rosto aos do quadro.

- Ele se afasta.

- Mako deve estar chegando, tente se lembrar.

Vincent se afasta do salão, ele é atingido na cabeça, o assassino joga longe sua arma, munido de luvas pega o celular de Vincent e envia uma mensagem para Mako.

A japonesa entra apressada no prédio, quando recebe uma mensagem, enviada do celular de seu chefe: “Mezanino”.

 Daniele segue olhando para o quadro, quando um flash invade sua mente, ela consegue se lembrar.

Ela se lembra daquela noite, foi rápido, mas ela viu o rosto do assassino ela viu o rosto de Robert.

Daniele se afasta assustada do quadro, ela pega seu celular, enviando uma mensagem para Vincent. 

Imediatamente ouve o som da mensagem, fazendo eco no grande salão, seguido pela voz de Mako.

- Daniele! Aqui em cima.

A modelo ergue o olhar, reconhecendo a assistente no mezanino.

- O que está fazendo ai?

- Vincent me chamou aqui.

É quando a ruiva percebe o que estava prestes a acontecer, antes de formular qualquer hipótese, a sombra de Robert surge atrás de mako.

- Atrás de você!

Mako se vira, ela reconhece Robert, seu olhar frio a penetra, Robert leva a mão até a parte de dentro de seu paletó, com suavidade (e uma certa beleza) puxa sua faca.

Quando Mako percebe o que estava era acontecer já era tarde, Robert rasga o pescoço dela, cambaleando ela corre para a escada, Daniele corre até a garota ferida, gritando seu nome.

Robert caminha lentamente, Mako se debruça no corrimão de mármore, tentando se equilibrar, Robert a puxa pelos cabelos e crava a faca no peito dela, que grita de dor.

O assassino gira lentamente a faca, enquanto olha nos olhos de Daniele, apreciando o desespero da moça.

Ele desfere outro golpe, dessa vez fatal, o sangue tinge a escadaria, Robert joga o corpo de Mako no andar de baixo, Daniele corre até a garota, na esperança de encontrá-la viva, infelizmente já era tarde.

- O vermelho é a cor mais linda.

- Você me escalou para ficar ao lado da “mãe”, na última exposição.

- Imagine minha surpresa quando descobri que Mark se intrometeu na minha obra.

- Tenho uma novidade para você, “Mãe é uma fraude”.

Robert desce mais alguns degraus, brincando com a ponta da faca, sem desviar o olhar de sua presa.

- “Mãe” não tem nada a ver com a mãe dele, é só uma brincadeira, para incomodar as pessoas.

- Mas isso é óbvio, somos muito parecidos, foi por isso que o escolhi.

Os dois ouvem a porta se abrir, Vincent estava de pé, olhando a cena.

Robert quebra o silêncio:

- Você gosta dela assim?

- Devo dizer que é bem excitante, se não fosse a morte da minha assistente.

- Cada um de nós tem seu meio de chocar as pessoas.

- A diferença é que você não é um artista.

- E você? Desde quando se baseia no julgamento das pessoas? 

- Você não vai matá-la.

- Tem certeza? Do meu ponto de vista parece que vou.

Daniele se levanta, encarando seu algoz, eles se encaram, enquanto Vincent segue até um quadro, onde se arma com uma escultura.

- Agora todos estamos armados, não é Vincent?

- Você não deveria ficar feliz.

- Quem você realmente quer matar? Quem vai te satisfazer? Qual sangue você quer ver jorrar? O meu ou o da ruiva?

Daniele grita e pula sobre seus perseguidor,tentando pegar a faca dele, a moça morde a mão dele, o que dá tempo para Vincent atacar Robert, quebrando a escultura na cabeça dele.

O assassino cambaleia para trás, balançando a faca ante seu corpo, Vincent o encara e corre contra o assassino, desferindo um chute no seu peito.

Vincent sobe em Robert, pega a faca e rasga o rosto do assassino, que grita. Vincent esfaqueia a garganta do assassino e se afasta, o vendo morrer.

- A sensação de matar alguém. É… superestimada.

- Ele se vira e abraça Daniele.


Seis meses depois


O novo quadro de Vincent era exposto, na tela a imagem de Daniele, seus cabelos ruivos tornam-se gradualmente carmesim, se espalhando pela tela.


FIM    


domingo, 21 de novembro de 2021

Observada pela morte - Capítulo 03

 


Manhã

O jornal, na banca de jornais, trazia em sua capa a manchete: “Garçonete encontrada morta”.

Danielle acorda lentamente, ela abre seus olhos, ergue parte do corpo, ameaça retirar os cabelos diante da face, quando se assusta com um flash.

- A cena perfeita.

- O que foi isso?

- Meu próximo quadro.

- Por que você está aqui?

- Não se lembra?

Recordada do susto, Daniele se lembra da noite passada e abraça suas pernas, assustada, Vincent estende para ela uma xícara de café.

- O que está acontecendo?

- Quer descobrir?

- Ainda está divertido, para você?

- Não mais, desde ontem a noite.

Ele espera que a ruiva tome um gole do café e entrega um prato com croissants.

- Depois que a trouxe para casa, pedi para Mako agendar uma reunião com Robert.

- O Robert da agência?

- Ele organizou o evento e escalou todas vocês, uma para cada quadro, não deve ter sido coincidência o assassino ter te seguidor e você ter sido escalada para a mãe.

- Pobre Robert, deve estar arrasado.

- Então? Vem comigo?


Uma hora depois Vincent e Daniele entram em um restaurante e encontram uma mesa com Mako e Robert, a japonesa faz cara de desaprovação com a cena, já Robert desacredita.

- Senhor vincent, minhas sinceras desculpas pelo ocorrido.

- Não se desculpe, não foi culpa sua. Além disso, meus quadros devem estar mais valiosos agora, certo Mako?

- Detesto seu senso de humor.

- Sua assistente me disse que o senhor gostaria de remarcar a exposição.

- Exato, não gosto de ficar acuado, quando seria o melhor momento. Esperando que o assassinato não faça com que minha imagem se aproxime de algum aproveitador.

- Eu esperaria uns seis meses.

- Faz sentido - Vincent faz uma pausa, levando uma xícara de café aos lábios, quando encara o outro homem como um predador - Robert, posso fazer uma pergunta?

- Pois não.

- Eu fiquei curioso, fiz uma pesquisa e descobri que Rebeca foi remanejada vinte e quatro horas antes do evento acontecer, você sabe o motivo.

- O motivo está atrás de você.

- Mark olha confuso para a mesa, mas senta-se após receber o convite de seu sócio, Robert repete a pergunta, só então que Mark reconhece Daniele.

- Como pude confundir esses lindos cabelos ruivos?

- Eu estava cotada para a mãe?

- Sim, mas a remanejei. veja bem, o quadro “mãe” é muito escuro, já o local onde a coloquei era claro, tinha muitos tons de brancos, combinava melhor com seu cabelo.

- Mudou por mim?

- Não, pelo quadro, o vermelho deixava a obra mais atraente.

- Rebeca era loira.

- Sim, amarelo e preto, foi por isso.

- Eu não fui comunicado da mudança - Robert se intromete.

- Desculpe, foi só depois que olhei as garotas.

- O que é isso - Daniele aponta para o pin na lapela de Mark.

- É o símbolo de nossa agência, usamos durante o evento. Foi uma ideia minha, para promover a marca e sabermos quem é da staff.

- Nunca vi,

- É trágico, mas escolhemos a exposição do artista Vincent para inaugurarmos nossa assinatura visual.

- Estou honrado.

Todos riem de nervoso, Vincent bebe mais um gole de café e encara Robert.

- Onde está o seu?

- Em casa, o acordo era usar apenas em eventos.

- Adoro um adorno - Mark interrompe - achei tão bonito, que não resisti.

- Você é um homem visual?

- Muito, por isso fiquei tão empolgado em trabalhar com o senhor.

- Me chame de você, os dois.

Após o almoço Daniele e Vincent se despedem dos sócios, Mako se junta a eles.

- Posso falar a sós com você.

- Sei qual é o assunto, Daniele estava no viva a vós, ontem.

- Você sempre foi mórbido e tétrico, mas dessa vez exagerou.

Daniele não aguenta mais e rompe o silêncio, encarando Mako:

- Não estou transando com seu chefe, se é isso que está pensando.

- Então? - Mako cobra uma explicação de Vincent com seu olhar.

- Daniele e eu estamos tentando descobrir a identidade do assassino.

- Você enlouqueceu?

Sim - Daniele antecipa a resposta - de qualquer forma fui seguida ontem e o Vincent me deu abrigo.

- Avisaram a polícia?

- Não!

- Deviam.

- Eu farei isso Mako.

- As pesquisas que fiz, a reunião de hoje, foram por causa da investigação de vocês dois?

- Desculpe Mako.

- Inacreditável.

Daniele toma a palavra.

- Me desculpe por tudo, eu compartilho da sua opinião. Nós dois vamos a polícia, contar o que sabemos, eu prometo.

- E o que sabemos, Vincent?

- O crime está relacionado ao quadro “mãe”, vejo duas hipóteses: a) o assassino sabia que Daniele estaria no quadro mãe e se dirigiu a ela, mas ficou surpreso com a mudança e improvisou; b) o assassino quis matar Rebeca e foi direto para ela.

- Se ele queria matar a Rebeca, por que me seguiu?

- Você viu o rosto dele.

- Você viu o rosto dele?!

- Não vi!

- Você viu, só não lembra que viu.

- Peço desculpas pelo Vincent, ele fez vinte anos de análise e pensa que é psicanalista.

- Você fez vinte anos de psicanálise?

- Quinze deitado no divã.

- E está assim?

- Você não faz ideia de como ele era.

- Chega de falar de mim, Mako eu quero que você descubra todos os membros da Staff daquele dia.

- Considere feito, mas…

- Mas?

- Assim que vocês saírem eu chamo a polícia e informo do pin.

 - Mako…

I- sso não é negociável.


A noite


Robert e Mark chegam às suas casas, um sem saber do outro. Um deles é o assassino, já o outro não faz ideia.

Robert e Mark retiram seu blazer, arregaçam as mangas, colocam seus jantares no fogo. Cada um abre o seu computador: um começa a assistir uma série, enquanto espera pelo jantar ficar pronto; o outo pesquisa sobre Vincent.

O assassino abre uma pasta com fotos de mulheres ruivas. A fotografia de Daniele continua ali.

Uma réplica do quadro “mãe” enfeita a parede do quarto do assassino.

O assassino se serve de uma taça de vinho tinto, forte encorpado, o outro homem também.

Em outro lugar, Mako vira a noite pesquisando, ela descobriu facilmente a lista da staff, mas não se contentava com pouco.

Quando Vincent e Daniele chegam ao apartamento do pintor, a polícia estava alí, os dois recebem uma grande bronca e Vincent entrega o pin, cabisbaixo.

O policial ameaça prendê-lo e vai embora.

Na casa do assassino, este contempla o quadro mãe, completamente nu, um corpo trabalhado, musculoso, definido, cabelos penteados, porte de atleta.

- Você se mostrou um desafio Daniele. 

Ele caminha pela casa, indo até uma pequena área, onde dá início aos seus exercícios, ouvindo música o assassino faz barra, em sua mente os cabelos ruivos de Daniele se tornam o sangue jorrando, da cor dos olhos vermelhos.

O assassino olha-se no espelho, enxerga apenas a imagem de Vincent.

Termina na próxima semana.

sábado, 13 de novembro de 2021

Observada pela morte - Capítulo 02

 


Minutos depois Vincent estaciona seu carro esporte a frente do salão, cercado por uma fita de isolamento da polícia. O artista segura seu blazer preso ao corpo (na verdade ele segura algo em seu bolso) e pula a fita de isolamento.

Daniele fica inconformada:

- É proibido entrar aqui.

- E?...

A modelo se abaixa, passando por baixo da fita, tomando cuidado com a saia. Os dois entram no salão, Daniele tenta desviar o olhar da marcação do cadáver.

- Onde você estava quando ele esbarrou em você?

- Perto de um quadro com muitos rostos em flores.

Vincent a guia pelo salão até encontrar quadro, ele suspira orgulhoso ao admirar sua obra.

- Pensei que seria o primeiro a ser comprado.

- É horrível.

- Obrigado.

- Desculpe…

- Não se preocupe, não fui irônico. Sei o que minhas pinturas parecem.

- E o que elas são?

- São como eu vejo o mundo.

- Aquela coisa de Nietzsche.

Vincent sorri.

- Você se lembra?

- Por que aquela frase horrível?

- Horrível é a palavra do dia?

- Se for me ofender…

- Desculpe.

Daniele se aproxima do quadro, procura alguma coisa, que não sabe o que é.

- Você nunca achou que as normas da sociedade são um tanto quanto aleatórias, Daniele?

- Como assim?

- Você se enquadra no mundo? Acha que ele faz sentido?

- Até ontem a noite achava, mas…

- Mas?

- Nunca entendi como o mundo funciona, como as pessoas se encaixam nele, como convivem em harmonia com coisas que não entendem.

- A resposta é simples: não convivem, elas seguem, obedecem e não pensam.

- Nietzsche criticava as normas da moral.

- Exato. Por que algo horrível vale milhões?

- Esse quadro.

- Sim?

- Está diferente?

- Não está, eu o pintei e ficou assim desde então.

- Acredite em mim, eu o olhei ontem, foi de relance. Algo está diferente.

- Muito interessante, quantas vezes vemos algo e complementamos com aquilo que fantasiamos.

- Tinha algo diferente. Esses rostos, tinha algo que não combinava.

- Faces da Morte, é quase irônico.

Vincent se afasta e segue até onde o corpo de Rebeca estava, ele olha para o quadro caído, um demônio de olhos em meio a névoa.

- Um demônio de olhos vermelhos?

- Pintei em uma noite de insônia.

- Como chama?

- “Mãe”.

O celular dele toca, Vincent olha o número e atende no viva a voz.

- Você está no viva a voz.

- Fiz a primeira das duas pesquisas, as modelos foram selecionadas uma semana atrás.

- Que quadro Daniele estava designada?

- “Mãe”.

- Esse era o quadro da Rebeca?

- Não.

Vincent a encara, mas a ruiva faz que não com a cabeça.

- Muito obrigado, Mako.

Os dois se olham, Daniele parecia surpresa.

- Eu não fui informada.

- Está ficando interessante.

- Não usaria essa palavra.

- Você já viu isso?

Vincent tira o Pin do bolso e mostra para Daniele, que tenta identificar o desenho.

- Penas?

- Uma pena de escritor, parece um símbolo, quem me ligou foi a Mako, minha assistente. Pedi para ela pesquisar.

- Tenho medo de perguntar…

- Peguei da mão de Rebeca.

- Adeus.

- Como assim?

- Você é um louco.


A noite, Daniele está voltando para sua casa após um jantar, ela para na frente de uma banca de jornais, onde vê o rosto de Vincent em uma revista de arte.

O assassino a observa de longe, ele a vê folheando uma revista e pagando o jornaleiro. Espera a moça se afastar e a segue.

Daniele sente alguma coisa, que não entende. Um arrepio percorre seu corpo, ela sente-se impelida a olhar para trás, onde vê a sombra do assassino e corre por entre o beco escuro, o assassino corre atrás dela.

Daniele escorrega e cai, mas levanta-se logo, ela dobra a esquina e entra em um bar.

A ruiva senta-se em uma mesa, ela percebe o assassino sentando em uma mesa nas sombras. Em desespero pega o celular e liga para a polícia.

Enquanto espera a chamada completar ela olha para a revista que comprou, procura pela mensagem que Vincent enviou pela manhã/tarde.

- “Ele está atrás de mim”.

- “Onde você está?”

- “Blue Moon, fica...”

- “Eu conheço, estou chegando”.

Só aí que Daniele percebe no uniforme dos garçons e garçonetes: blusa branca e calça ou saia preta. 

- O assassino desapareceu.

Daniele está no meio do seu segundo copo quando Vincent entra no bar, junto de dois seguranças.

Daniele o abraça, o artista repete o gesto, os dois saem do bar.

Vincent a leva para seu apartamento e a deixa dormindo no quarto, pouco depois vai para o escritório, dormir no sofá do estúdio.

Continua.


domingo, 7 de novembro de 2021

Observada pela morte - Caítulo 01


Ele observa a faca, fascinado por seu brilho. 

Vários homens puxam suas facas, com o corte reluzindo a luz artificial.

Rebeca sai do banho enrolada em uma toalha.

Daniele sai do banho enrolada em uma toalha.

As garotas, cada uma delas em sua casa, sem consciência uma da outra, olham para a roupa sobre a cama, um conjunto idêntico.

Os homens espalham seus utensílios cortantes sobre uma mesa de inox. Um deles abre o freezer, retirando um pedaço de carne.

Rebeca e Daniele estão de calcinha, cada uma em seu respectivo quarto. Elas se abaixam, pegando o sutiã sobre a cama, o vestindo. Na sequência a cinta liga.

Daniele apoia o pé na cama, alisando a meia sobre a perna, tendo certeza de que a mesma está colada à pele.

Rebeca prende a borda da meia ao elástico, a deixando esticada.

Vários homens de dolmã branco e calça preta, enfileirados, cada um ergue uma tigela de inox, jogando para cima uma salada, que se misturada no ar.

O fogo acende, iluminando uma figura ao fundo, de roupa preta, esse oculta uma faca em um bolso interno do paletó.

As garotas vestem uma mini-saia preta, com blusinha branca. Daniele escolhe um batom suave, que combina com seus cabelos ruivos e olhos azuis. Rebeca gira o batom vermelho sangue, fascinada com a cor.

Um dos homens na cozinha corta uma peça de carne, deixando o sangue escorrer.

Do lado de fora da cozinha um grande salão, onde banners estão expostos, funcionários carregam obras de arte em tela. O rosto de Vincent, como o grande artista está em destaque nas publicações.

Já, o verdadeiro Vincent se encontra no bar, com seu segundo copo de whisky na mão. Mako se aproxima irritada.

- Francamente, é tão difícil assim ficar feliz?

- Eu sou um artista, tenho que parecer melancólico. Faz parte do charme.

- Melancólico sim, bêbado não.

- Estou bem, afinal é só mais uma apresentação.

Ele se levanta, caminha pelo salão, curiosos e pessoas da staff abrem espaço, Mako corre atrás dele.

- Essa é a ordem da noite: você fica a frente do "fragmento da noite"...

- "Noite em fragmentos".

- "Noite em fragmentos", fala alguma coisa, enquanto as modelos ficam ao lado dos outros quadros.

- Isso sim vale a pena ver.

- Ao final o jantar. Tudo pago pelos seus patrocinadores, então faça direito, são eles que te bancam.

- Não! É a minha arte que me banca.

Os dois passa a frente de uma modelo, vestida de blusa branca, mini-saia preta, cinta-liga preta/transparente e salto alto.

Dois táxis encostam no local da exposição, um em cada entrada. Daniele e Rebeca chegam atrasadas, elas correm para dentro do grande salão.

Uma delas é observada a distância.

Vincent está a frente de um quadro enorme, com uma cena noturna: a lua sobre uma árvore e um lago. tons de vermelho se destacam, com linhas brancas irregulares, retalhando sua obra.

- Muito obrigado por comparecerem, nada como uma bela noite, para nos inspirar. Para trazer a tona nosso lado mais sombrio. Assustador ou belo? Nietzsche dizia: "devemos fazer o bem e o mau as pessoas, mas por que fazer o bem a quem nos faz o bem e o  mau a quem nos faz o mau?"...

Daniele estava em seu ponto, ao lado de um quadro esverdeado e um vaso decorativo, ela vira a cabeça de lado, tentando entender “artistas”.

Rebeca abre um espelho de maquiagem, para ter certeza de seu visual, quando o reflexo revela alguém conhecido, ela vira-se animada, seu sorriso se transforma em um grito.

O homem tapa a boca de Rebeca, a esfaqueando. A modelo agarra a lapela do assassino, arrancando um pin. O assassino enfia lentamente a faca da barriga da moça. Sua blusa branca é tingida pelo sangue rubro.

Ele a esfaqueia mais uma vez, apertando a boca de Rebeca, suas lágrimas mancham a maquiagem, ele gira a faca, fazendo um rasgo. Por fim ergue seu braço, desferindo com força a última punhalada, em seu coração.

Porém as coisas não saem como ele gostaria, Rebeca cambaleia para trás, esbarrando no quadro, ao qual deveria ficar do lado, o alarme soa, o assassino se esconde, as pessoas olham para Rebeca morta, os gritos começam, seguidos pela correria desenfreada.

Daniela corre até uma saída, ela é atropelada pela multidão, passa por um quadro "Faces da morte", onde rostos torturados nascem dentro dos botões das flores. Um grito chama sua atenção, a moça olha para o lado e sente alguém esbarrando nela. Ao olhar novamente algo estava diferente no quadro.

Uma terceira modelo grita, apontando para Daniele. Sua blusa estava manchada de sangue, não o dela, mas o sangue de Rebeca. O sangue que ficou impregnado no assassino.

Minutos se passaram, Vincent entra correndo no salão deserto, parando ao lado do corpo de Rebeca, algo chama sua atenção. O artista se agacha, recolhendo o pin do assassino e guardando no bolso, quando um grito o interrompe.

- Se afaste do corpo.

- Desculpe detetive.

- Sabia que a mínima interferência pode fazer uma prova ser inadmissível?

- Desculpe, não era minha intenção.

- Então?

- Então? 

- O que achou?

- Um desperdício, ela era linda.

- Sai daqui.

Vincent se afasta do policial, guardando o pin no bolso, na saída do salão, seu olhar é atraído para Daniele, sentada em uma ambulância dando sua versão para a polícia.

Seus olhares se cruzam, vincent grava o rosto da ruiva.       


Dia Seguinte


Daniele está acordando, enrolando na cama quando a campainha toca, mais de uma vez, ela decide deixar, quem quer que seja do lado de fora.

A ruiva esconde sua cabeça entre travesseiros, quando seu celular toca, ela também ignora.

Ela respira profundamente, uma mensagem de texto chega.

Intrigada ela pega o aparelho e lê o texto:

“Bom dia, ou seria boa tarde, meu nome é Vincent, sou o artista responsável pelas pinturas da exposição de ontem a noite. Sinto pelo que aconteceu mas tenho uma proposta para você. Estou do lado de fora do seu apartamento”.

Daniele se levanta assustada, apenas de regata e calcinha, ela veste um roupão e abre uma fresta da porta (ainda fechada por um trinco de corrente).

Imaginei que você não vestiria uma roupa para me encontrar.

Como descobriu meu celular.

Quer a versão longa ou curta?

Curta.

Sou rico

A moça bate a porta na cara dele e se prepara para voltar para cama, mas Vincent bate na porta, gritando do lado de fora.

Tenho uma proposta.

Não estou interessada!

Após alguns segundos de silêncio, ele volta a gritar

Não é o que você disse para minha namorada, antes de dormir com ela!

O que?

Sei que ela está ai? Você destruiu meu lar!

Daniele volta correndo até a porta e a abre.

O que você está fazendo?

Me deixe entrar, ou contínuo.

Irritado ela abre a porta deixando o artista entrar, esse se acomoda em uma poltrona, Daniele olha contrariada para ele.

Então?

Quer descobrir a identidade do assassino?

Fora!

Você o viu.

Já disse para a polícia, que ele esbarrou em mim, eu não o vi.

Isso não é verdade, você só não sabe que o viu.

Você é louco!

Sou artista, é a mesma coisa.

Vá embora, por que não pode deixar isso em paz.

Porque não sabemos quem ele é, porque matou aquela garota. Outras correm perigo. Você corre perigo.

Foi um caso isolado.

Não conte com isso - sua expressão muda de leve para penetrante, Daniele sente um medo incompreensível.

Por que?

Ele a esfaqueou em público, várias vezes. Não foi isolado, não foi ao acaso e não foi pessoal. Foi por prazer.

Não entendi.

Por que se arriscar tanto? A única resposta que encontro é para gozar como um louco.

Mesmo assim, por que não chamar a polícia?

Qual seria a graça?

Vá embora!

Venha comigo, não posso fazer sem você.

Olhe Vincent…

Por favor, sei que você está juntando dinheiro para seus pais.

Como sabe?

Sou rico.

Você é o verdadeiro psicopata aqui.

Nunca disse que não era, agora preste atenção. Eu pago um milhão de dólares. Venha comigo. Conversamos um pouco e mais nada. 

Continua.