sábado, 13 de novembro de 2021

Observada pela morte - Capítulo 02

 


Minutos depois Vincent estaciona seu carro esporte a frente do salão, cercado por uma fita de isolamento da polícia. O artista segura seu blazer preso ao corpo (na verdade ele segura algo em seu bolso) e pula a fita de isolamento.

Daniele fica inconformada:

- É proibido entrar aqui.

- E?...

A modelo se abaixa, passando por baixo da fita, tomando cuidado com a saia. Os dois entram no salão, Daniele tenta desviar o olhar da marcação do cadáver.

- Onde você estava quando ele esbarrou em você?

- Perto de um quadro com muitos rostos em flores.

Vincent a guia pelo salão até encontrar quadro, ele suspira orgulhoso ao admirar sua obra.

- Pensei que seria o primeiro a ser comprado.

- É horrível.

- Obrigado.

- Desculpe…

- Não se preocupe, não fui irônico. Sei o que minhas pinturas parecem.

- E o que elas são?

- São como eu vejo o mundo.

- Aquela coisa de Nietzsche.

Vincent sorri.

- Você se lembra?

- Por que aquela frase horrível?

- Horrível é a palavra do dia?

- Se for me ofender…

- Desculpe.

Daniele se aproxima do quadro, procura alguma coisa, que não sabe o que é.

- Você nunca achou que as normas da sociedade são um tanto quanto aleatórias, Daniele?

- Como assim?

- Você se enquadra no mundo? Acha que ele faz sentido?

- Até ontem a noite achava, mas…

- Mas?

- Nunca entendi como o mundo funciona, como as pessoas se encaixam nele, como convivem em harmonia com coisas que não entendem.

- A resposta é simples: não convivem, elas seguem, obedecem e não pensam.

- Nietzsche criticava as normas da moral.

- Exato. Por que algo horrível vale milhões?

- Esse quadro.

- Sim?

- Está diferente?

- Não está, eu o pintei e ficou assim desde então.

- Acredite em mim, eu o olhei ontem, foi de relance. Algo está diferente.

- Muito interessante, quantas vezes vemos algo e complementamos com aquilo que fantasiamos.

- Tinha algo diferente. Esses rostos, tinha algo que não combinava.

- Faces da Morte, é quase irônico.

Vincent se afasta e segue até onde o corpo de Rebeca estava, ele olha para o quadro caído, um demônio de olhos em meio a névoa.

- Um demônio de olhos vermelhos?

- Pintei em uma noite de insônia.

- Como chama?

- “Mãe”.

O celular dele toca, Vincent olha o número e atende no viva a voz.

- Você está no viva a voz.

- Fiz a primeira das duas pesquisas, as modelos foram selecionadas uma semana atrás.

- Que quadro Daniele estava designada?

- “Mãe”.

- Esse era o quadro da Rebeca?

- Não.

Vincent a encara, mas a ruiva faz que não com a cabeça.

- Muito obrigado, Mako.

Os dois se olham, Daniele parecia surpresa.

- Eu não fui informada.

- Está ficando interessante.

- Não usaria essa palavra.

- Você já viu isso?

Vincent tira o Pin do bolso e mostra para Daniele, que tenta identificar o desenho.

- Penas?

- Uma pena de escritor, parece um símbolo, quem me ligou foi a Mako, minha assistente. Pedi para ela pesquisar.

- Tenho medo de perguntar…

- Peguei da mão de Rebeca.

- Adeus.

- Como assim?

- Você é um louco.


A noite, Daniele está voltando para sua casa após um jantar, ela para na frente de uma banca de jornais, onde vê o rosto de Vincent em uma revista de arte.

O assassino a observa de longe, ele a vê folheando uma revista e pagando o jornaleiro. Espera a moça se afastar e a segue.

Daniele sente alguma coisa, que não entende. Um arrepio percorre seu corpo, ela sente-se impelida a olhar para trás, onde vê a sombra do assassino e corre por entre o beco escuro, o assassino corre atrás dela.

Daniele escorrega e cai, mas levanta-se logo, ela dobra a esquina e entra em um bar.

A ruiva senta-se em uma mesa, ela percebe o assassino sentando em uma mesa nas sombras. Em desespero pega o celular e liga para a polícia.

Enquanto espera a chamada completar ela olha para a revista que comprou, procura pela mensagem que Vincent enviou pela manhã/tarde.

- “Ele está atrás de mim”.

- “Onde você está?”

- “Blue Moon, fica...”

- “Eu conheço, estou chegando”.

Só aí que Daniele percebe no uniforme dos garçons e garçonetes: blusa branca e calça ou saia preta. 

- O assassino desapareceu.

Daniele está no meio do seu segundo copo quando Vincent entra no bar, junto de dois seguranças.

Daniele o abraça, o artista repete o gesto, os dois saem do bar.

Vincent a leva para seu apartamento e a deixa dormindo no quarto, pouco depois vai para o escritório, dormir no sofá do estúdio.

Continua.


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