Minutos depois Vincent estaciona seu carro esporte a frente do salão, cercado por uma fita de isolamento da polícia. O artista segura seu blazer preso ao corpo (na verdade ele segura algo em seu bolso) e pula a fita de isolamento.
Daniele fica inconformada:
- É proibido entrar aqui.
- E?...
A modelo se abaixa, passando por baixo da fita, tomando cuidado com a saia. Os dois entram no salão, Daniele tenta desviar o olhar da marcação do cadáver.
- Onde você estava quando ele esbarrou em você?
- Perto de um quadro com muitos rostos em flores.
Vincent a guia pelo salão até encontrar quadro, ele suspira orgulhoso ao admirar sua obra.
- Pensei que seria o primeiro a ser comprado.
- É horrível.
- Obrigado.
- Desculpe…
- Não se preocupe, não fui irônico. Sei o que minhas pinturas parecem.
- E o que elas são?
- São como eu vejo o mundo.
- Aquela coisa de Nietzsche.
Vincent sorri.
- Você se lembra?
- Por que aquela frase horrível?
- Horrível é a palavra do dia?
- Se for me ofender…
- Desculpe.
Daniele se aproxima do quadro, procura alguma coisa, que não sabe o que é.
- Você nunca achou que as normas da sociedade são um tanto quanto aleatórias, Daniele?
- Como assim?
- Você se enquadra no mundo? Acha que ele faz sentido?
- Até ontem a noite achava, mas…
- Mas?
- Nunca entendi como o mundo funciona, como as pessoas se encaixam nele, como convivem em harmonia com coisas que não entendem.
- A resposta é simples: não convivem, elas seguem, obedecem e não pensam.
- Nietzsche criticava as normas da moral.
- Exato. Por que algo horrível vale milhões?
- Esse quadro.
- Sim?
- Está diferente?
- Não está, eu o pintei e ficou assim desde então.
- Acredite em mim, eu o olhei ontem, foi de relance. Algo está diferente.
- Muito interessante, quantas vezes vemos algo e complementamos com aquilo que fantasiamos.
- Tinha algo diferente. Esses rostos, tinha algo que não combinava.
- Faces da Morte, é quase irônico.
Vincent se afasta e segue até onde o corpo de Rebeca estava, ele olha para o quadro caído, um demônio de olhos em meio a névoa.
- Um demônio de olhos vermelhos?
- Pintei em uma noite de insônia.
- Como chama?
- “Mãe”.
O celular dele toca, Vincent olha o número e atende no viva a voz.
- Você está no viva a voz.
- Fiz a primeira das duas pesquisas, as modelos foram selecionadas uma semana atrás.
- Que quadro Daniele estava designada?
- “Mãe”.
- Esse era o quadro da Rebeca?
- Não.
Vincent a encara, mas a ruiva faz que não com a cabeça.
- Muito obrigado, Mako.
Os dois se olham, Daniele parecia surpresa.
- Eu não fui informada.
- Está ficando interessante.
- Não usaria essa palavra.
- Você já viu isso?
Vincent tira o Pin do bolso e mostra para Daniele, que tenta identificar o desenho.
- Penas?
- Uma pena de escritor, parece um símbolo, quem me ligou foi a Mako, minha assistente. Pedi para ela pesquisar.
- Tenho medo de perguntar…
- Peguei da mão de Rebeca.
- Adeus.
- Como assim?
- Você é um louco.
A noite, Daniele está voltando para sua casa após um jantar, ela para na frente de uma banca de jornais, onde vê o rosto de Vincent em uma revista de arte.
O assassino a observa de longe, ele a vê folheando uma revista e pagando o jornaleiro. Espera a moça se afastar e a segue.
Daniele sente alguma coisa, que não entende. Um arrepio percorre seu corpo, ela sente-se impelida a olhar para trás, onde vê a sombra do assassino e corre por entre o beco escuro, o assassino corre atrás dela.
Daniele escorrega e cai, mas levanta-se logo, ela dobra a esquina e entra em um bar.
A ruiva senta-se em uma mesa, ela percebe o assassino sentando em uma mesa nas sombras. Em desespero pega o celular e liga para a polícia.
Enquanto espera a chamada completar ela olha para a revista que comprou, procura pela mensagem que Vincent enviou pela manhã/tarde.
- “Ele está atrás de mim”.
- “Onde você está?”
- “Blue Moon, fica...”
- “Eu conheço, estou chegando”.
Só aí que Daniele percebe no uniforme dos garçons e garçonetes: blusa branca e calça ou saia preta.
- O assassino desapareceu.
Daniele está no meio do seu segundo copo quando Vincent entra no bar, junto de dois seguranças.
Daniele o abraça, o artista repete o gesto, os dois saem do bar.
Vincent a leva para seu apartamento e a deixa dormindo no quarto, pouco depois vai para o escritório, dormir no sofá do estúdio.
Continua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário