sábado, 29 de junho de 2024

Alice Sacrifício Humano Capítulo 7 - A Terceira Alice

 



e Kyoko se despedem, elas trocam contatos diretos e cada uma vai para sua casa, enquanto caminha Yuki sente medo, devido aos ataques sofridos anteriormente, ela entra no seu carro e suspira.

- Vamos experimentar.

Ela pega seu telefone, fecha os olhos, clica de forma aleatória na tela, o som de chamada começa, Yuki permanece de olhos fechados, nada a preparou para a voz que ouviu.

- Detetive Fuyutsuki.

- …

- Alô, tem alguém aí? você precisa de ajuda?

- Sim, eu preciso - essa frase renovou suas forças - sou eu, Yuki.

- A atacaram novamente?

- Não, mas eu gostaria que você me ouvisse, por favor.

- Claro - pela primeira vez ela sente gentileza na voz de Fuyutsuki e Yuki percebe, como eles podem derrotar uma crença tão angustiante. 


Kyoko entra em casa, ela olha em volta, sua sensação é de um estranhamento, tudo está normal, ao tempo em que se sente em um universo paralelo, a garota encara o quadro com seu rosto e percebe a terrível verdade: “A terceira Alice era uma criança de paus/Todo o país das maravilhas a amava igual”.

Ela olha em volta, quando reconhece algo que não deveria ser reconhecido, algo que não deveria estar lá, o coelho descarnado, sem olhos, ele cospe um rei de paus. Kyoko entra em desespero, ela se vira, dando de frente ao homem de chapéu preto.

Os dois se encaram, o homem abaixa sua cabeça, leva a mão ao chapéu, o retirando, enquanto ergue seu olhar, Kyoko encara o seu rosto, no corpo daquele ser, uma sósia perfeita, o clone sorri.

O mundo torna-se verde, Kyoko fica paralizado, sente algo em sua boca, uma terrível dor, ela vomita seus intestinos.

Antes de morrer ela olha seu computador, com o canto de seus olhos, a webcam está ligada, a tela do computador liga, ela apresenta sua ultima live, os números aumentam. Ela morre.


Na dimensão paralela

O castelo escuro torna-se esmeralda, de uma tonalidade linda, o ser que se transformou em Kyoko caminha, pelo imenso Hall de chão brilhante, os coelhos cantam, enquanto ela se despe.

“A terceira alice era uma criança de paus/Todo o país das maravilhas a amava igual”

Ela derruba sua catana

“Ela encantou todos com seu jeito de ser/E criou para si um estranho reino verde”

Joga as luvas no chão.

“Essa Alice rainha se tornou/Porém se deixou levar por um sonho assustador”

O sobretudo preto cai no chão”.

“Tão grande era o seu medo de perder para a morte/Pois queria reinar o seu país para sempre”.

Kyoko senta-se em seu trono verde, usando um vestido verde, com uma coroa verde e um cetro verde, Shub-Niggurath urra ao fundo e todos se calam, Kyoko ergue sua outra mão, preso entre os dedos indicador e médio uma dama de copas.

sábado, 22 de junho de 2024

Alice Sacrifício Humano Capítulo 06 - O Senhor das Árvores

Shub Niggurath Lovecraft

 

O coelho humanoide de rosto descarnado fareja um campo de rosas vermelhas, cada flor transborda sangue fresco, o céu fica escuro, o animalzinho bizarro olha para o céu, onde observa Shub-Niggurath, o senhor das árvores, em toda sua glória.

Seu corpo de verme se impõem acima das copas das árvores, repleto de tentáculos e bocas, de onde escorrem líquidos escuros, Shub-Niggurath também conhecido como o senhor das árvores ou “a cabra negra da floresta dos mil filhotes” é um deus exterior, uma divindade descrita no Necronomicon, cuja peculiaridade é vomitar seus filhos.

dezenas de cabras negras, decompostas, se curvam a divindade.

Uma série de coelhos putrefatos começam a cantar: 

“Era uma vez, um pequeno sonho/Não se sabe quem o sonhou/porque era muito pequeno…/Mas isso fez o sonho pensar/‘Eu não quero desaparecer, como faço para continuarem sonhando comigo?’/ Então ele teve uma ideia/‘Eu vou trazer as pessoas até mim, elas farão o meu mundo’”

Uma lua azul se impões sobre um bosque vermelho, rondando um castelo apagado, Misako e Asano são vomitados pelo senhor dos bosques.

Os coelhos continuam sua melodia.


Em outro plano da existência, em uma cafeteria de Tóquio.

Yuki está distante, ela rabisca Shub-Niggurath em um guardanapo, o nome proibido nada diz para a repórter, que bebe mais um gole de seu café. Yuki não saberia dizer se o café está bom ou não, devido ao seu estado de ansiedade. 

Ao lado da repórter uma funcionária passa vestida de rosa, com orelhas e rabos de gatinha, ao fundo outra garçonete mia para um cliente, que aplaude festivo.

Kyoko adentra o local, um pouco menos chamativa que o normal, a exceção é seu cabelo verde, naquele bairro ela é apenas mais uma na multidão, talvez um pouco gótica em excesso.

- Desculpe a demora.

- Eu agradeço por ter vindo tão prontamente.

- Na verdade, não sei o que fazer aqui, eu… sonhei com você, por favor, não fuja, às vezes tenho esses sonhos, onde compreendo o significado de algumas coisas - ela faz uma careta - parece muito estranho?

- Não vou fingir, também sonhei com você - Yuki lê o nome de “Shub-Niggurath” no guardanapo e o risca - tem alguma coisa acontecendo e acho que você sabe o que é…

As duas interrompem sua conversa, quando a garçonete chega, Kyoko pede um capuccino gelado, com caramelo, assim que a gatinha se afasta a garota de cabelo verde continua.

- Então, eu não sei, não sei por que tive esse sonho, não sei porque esses crimes acontecem…

- E o sacrifício humano, da Alice. O que é?

- É uma música de autor desconhecido, que virou uma lenda urbana,  no início pensei que alguém pudesse estar se inspirando na música, mas…

- Mas todos os seus instintos dizem o contrário, mesmo que pareça ilógico ou absurdo - Yuki bebe mais um gole de café - quando se está atrás de uma história ou se interroga alguém é necessário entender quando nosso lado racional deve comandar e quando ele precisa ser deixado de lado. 

- Você sabe alguma coisa sobre estudos antropológicos das lendas? Acredita-se que religiões e crenças surgiram para dar um sentido para as pessoas que precisavam se identificar, essas ideias agrupavam as pessoas,deram um lugar, um nome e um sentido, esses grupos criaram leis e costumes. Com o passar do tempo criaram religiões e grupos. 

- Totem e tabu, de Sigmund Freud, eu li alguns anos atrás, antes de virar uma repórter sensacionalista.

- Tente expandir essa ideia, podemos dizer que ideias, conceitos e crenças

 nascem, indo além podemos perguntar por que algumas são esquecidas e outras se mantém.

- Onde você quer chegar?

- Onde a realidade termina e onde a ficção começa. Realidade, tempo, espaço, são todos conceitos abstratos, a única certeza que temos é a morte e mesmo assim ninguém sabe o que vem depois ou se existe um depois.

- Você está dizendo que alguma “coisa” - ela olha para o guardanapo riscado - esquecida quer ser lembrada e está usando esses assassinatos para ser lembrada?

- Ou se manifestar, a crença não é sobre saber, mas sobre sentir - ela se recosta na cadeira, encabulada - você acha que estou louca?

- Em qualquer outro dia eu diria que sim e iria embora, mas hoje, sou obrigada a confessar que sua teoria faz muito sentido.


Pelo país uma série de pichações se espalham pelo, trazendo imagens de Shub-Niggurath, dependendo da pessoa ou grupo as imagens são diferentes: estilizadas, rudimentares, realistas, etc….


De volta ao café, as duas garotas bebem em silêncio, Yuki quebra o silêncio:

- O que podemos fazer?

- Como se combate uma crença?

As duas permanecem em silêncio.

sábado, 15 de junho de 2024

Alice Sacrifício Humano Capítulo 05 - O Sonho das Duas


 

Asano está cantando em um grande palco, as pessoas aplaudem felizes, o cantor agradece satisfeito, quando o sorriso desaparece de seu rosto, o coelho brando humanoide o observa, de seus olhos vazios surgem flores azuis.

Kyoko/Yuki caminham por um corredor, uma não vê a outra, até se depararem com um campo de flores azuis, levando para um longínquo castelo abandonado.

O coelho branco surge dentre as flores, ele abre a boca, exibindo um olho.

Kyoko/Yuki tentam correr, elas se deparam com Asano rindo loucamente, lágrimas escorrem por seus olhos, saliva por sua boca, seu corpo reclina para trás, esqueletos decompostos emergem das flores azuis.

O assassino empunha sua Katana apontando para cima, para uma massa negra pairando nos céus, com tentáculos, em uma das extremidades, algo parecido com a cabeça de um verme.

Kyoko e Yuki percebem que estavam no mesmo sonho, elas acordam.


- Aquela vagabunda! - Fuyutsuki arremessa o jornal contra a parede, onde o nome e o rosto de Misako foram exibidos - ela não tem nenhum respeito.

Uma policial entra na sala do detetive, que se vira.

- Agora não! 

A policial engole sua raiva, vai até o detetive e encosta uma pasta nele.

- Agora sim, você precisa ver isso.

Estranhando a reação dela, Fuyutsuki pega a pasta, a abre vendo uma foto de Asano.

- Suicídio?

- Olhe a próxima foto.

Ele assim o faz e sua expressão muda, o detetive apoia i corpo sobre sua mesa, encarando a carta do rei de ouros, então ele fala:

- Estamos fodidos!


O canal quatro transmite seu jornal, o âncora faz as chamadas do dia:

- Deputado e professor do assassino canibal tem seu mandato cassado, jovem universitária com camisa do deputado é agredida por dois homens que gritavam “amante de pedófilo”, ela encontra-se hospitalizada em estado grave, monge morre durante o funeral de Misako Aoyama. Vamos ao vivo a frente do congresso, com nossa repórter Yuki

Yuki entra ao vivo, na frente do congresso, atrás dela um cordão de isolamento, a separa de uma turma furiosa.

- Bom dia, o clima está tenso entre apoiadores do deputado…

O texto cuidadosamente preparado se perde em meio a uma onda de dor, Yuki sente seu corpo caindo, gritos indissociáveis a impedem de compreender o que acontece, ela sente seu corpo ser amparado.

Um policial ampara Yuki, a puxando para dentro da viatura, equanto os demais tentam conter alguns manifestantes, que agora tentam se matar.

O cinegrafista continua a filmar, enquanto Massami observa a agressão sofrida por Yuki com um sorriso no rosto, um manifestante saltou sobre ela, atingindo sua cabeça com as duas mãos.


Horas mais tarde, Yuki está na delegacia, em uma sala protegida, ela escuta cantos de protesto e gritos, quando Masami entra na sala, sentando-se ao lado dela, sua voz soa protocolar e impessoal.

- Como está sua cabeça?

- Ótima - ela decide que não vale a pena entrar em detalhes, com quem não se preocupa com sua saúde.

- Bom, olhe isso.

Ele entrega seu celular, com um vídeo pausado, Yuki reconhece a garota de seus sonhos, sua postura muda, ela agarra o aparelho e dá play.

Na tela Kyoko está em seu cenário, sem o sorriso de sempre.

- Eu não sei por onde começar, nessa noite o cantor Asano Hatsumi foi encontrado morto em sua casa, ele era um proeminente cantor, descrito como gentil e tímido. Dois detalhes geram estranhamento nessa cena, Asano foi encontrado com um tiro na cabeça, porém a perícia afirma que ele não estava sozinho em seu quarto, o porém é que a porta estava trancada por dentro, o segundo e mais perturbador detalhe é a presença de uma carta de baralho, um rei de ouros para ser mais exata.

A tela mostra as duas cartas encontradas.

- Os dois crimes parecem estarem associados, o que é péssimo para a polícia, as duas vítimas não tem nada em comum: sexo, idade, ambiente, modus operantis, nada se assemelha, exceto pelas cartas e é ai que volto com a minha teoria de “Alice: Sacrifício humano”.

Yuki olha assustada, trechos de seu pesadelo vem à tona, na tela um coelho branco, de aspecto sinistro surge, muito diferente do coelho de seu sonho, até porque ela imagina que nada pode se assemelhar com aquele coelho.

- A segunda Alice era um rei de ouros, veio ao país das maravilhas com seu canto! Ele encheu o país de notas inventadas, criando um mundo azul de som e loucura, essa Alice era frágil como uma rosa e um dia, um homem louco veio e lhe meteu uma bala, seu corpo floresceu rosas vermelhas, antes era amado e agora ninguém se lembra.

Yuki fica estática ou melhor seria dizer apavorada, seu sonho se encaixa naquela música, Masami nunca viu sua colega daquela forma e a observa intrigado.

- Está tudo bem? - Dessa vez sua preocupação era verdadeira.

- Eu… eu quero saber mais sobre esse Alice sacrifício humano, por favor - Yuki segue aérea e paralisada - você pode me mandar esse vídeo?

- Claro.

Yuki é retirada de seu transe com a porta sendo aberta, os dois jornalistas olham para a origem do som, onde Fuyutsuki está de pé, com expressão furiosa, ele encara Massami - “fora” - o produtor recolhe seu celular e sai em completo silêncio.

Fuyutsuki fecha a porta atrás de si e senta-se à frente de Yuki, que recua assustada.

- Você não tem coração.

- O que?

- Não é uma pergunta, é uma afirmação, você é um monstro.

- Eu não tenho que…

- Calada! 

A repórter decide obedecer, naquele momento sua mente estava límpida.

- O que Misako Aoyama fez para você?

- Quem?

O detetive esmurra a mesa gritando:

- Misako! Misako Aoyama! A garota encontrada pendurada em uma árvore, está lembrando agora? A garota que você revelou o nome e expôs sua família! A mesma família que precisa velar a filha assassinada e negar o relacionamento dela com um assassino!

- Alguém ia acabar descobrindo.

- Sim, depois de informarmos a família! Você gostaria de saber pela televisão, que um ente querido morreu? Que a pessoa que você ama foi estripada? Lógico, para isso acontecer você precisaria ser capaz de amar alguém.

Yuki começa a chorar, Fuyutsuki se acomoda na cadeira, com um sorriso de deboche nos lábios.

- Não acredito em lágrimas.

- Por favor, pare.

- Por que eu deveria?

Ela desata a chorar, dessa vez Fuyutsuki fica sem reação, os dois permanecem em silêncio, até ela começar a falar.

- Eu nunca quis isso, nunca quis o canal quatro, nunca quis ser odiada pelas pessoas, meu único irmão não me deixa ver sua filha.

Ela recomeça a chorar, com os braços apoiados na mesa, Fuyutsuki a afaga.

- Fuyutsuki - sua voz estava distante.

- Sim.

- Cuidado com o coelho branco.

- O que?

Yuki falou dormindo.


A noite começa, Fuyutsuki estuda as fotos das duas vítimas, ele observa ao lado uma frase que o mesmo escreveu: “Cuidado com o coelho branco”.

Yuki está em seu quarto, com o celular nas mãos, ela envia uma mensagem para Kyoko, se apresentando e dizendo que gostaria de conversar com ela.

Uma enorme massa cinzenta, repleta de tentáculos e bocas, pingando lodo, abre sua boca principal e vomita o homem sem rosto, com capa, luva e chapéu, todos pretos, ele prende sua katana na cintura.

Yuki acorda assustada, ela percebe que cochilou, no celular uma mensagem de Kyoko: “precisamos nos encontrar o mais rápido possível”.

sábado, 8 de junho de 2024

Alice Sacrifício Humano Capítulo 04 - A Segunda Alice


 

Noite.

Kyoko brinda sozinha ao sucesso de sua live, Fuyutsuki adormece a frente das fotografia de Misako, Yuki limpa a boca, após um “serviço oral” em um policial, em troca ela tem a identidade da vítima. Em poucos minutos entra ao vivo no jornal

- Boa noite, estou na frente da delegacia, onde prestei queixa contra agressão que sofri de dois alunos do curso de humanas, que não aceitaram a notícia de que um dos seus foi responsabilizado por um crime terrível.

Ela faz uma pausa dramática, antes de mudar de assunto.

- Por falar em crime terrível, você tem informações sobre a vítima, encontrada no bosque próximo ao campus. Isso mesmo, com exclusividade para o canal quatro trago o nome da vítima - mudando a entonação da voz para transmitir tristeza e pesar -  ela se chamava Misako Aoyama, estudante de letras e colega de classe do assassino canibal. Não temos informações sobre o relacionamento dos dois, isso se eles tinham alguma relação, nem sobre a causa da morte.


Longe dali, em um clube noturno, Asano canta mais uma música, as pessoas dançam ao som de sua bela voz.

Ao final do show, Asano recebe os parabéns pela apresentação, olha no relógio e constata que são duas horas da manhã.

A noite japonesa é escura e solitária, trajando um terno azul, de camisa aberta, o cantor percorre um caminho que fez muitas vezes, mas naquela noite algo se faz diferente, uma sensação sinistra toma invade sua mente.

Ao final da rua um homem usando casaco preto, camisa preta, luvas pretas e um chapéu preto o observava sobre sua máscara com feições humanas, os olhos e a boca estão delimitados, algo estranho exala daquela figura.

Asano segue andando, olhando apreensivo para trás, ele cantarola para tentar se acalmar.

Ele para sob uma fonte de luz azulada, enquanto procura suas chaves, uma olhada em volta garante que está sozinho. Asano entra em seu prédio onde se convence de estar a salvo.

Uma vez em seu apartamento, Asano liga seu aparelho de som para relaxar, mas a sensação de estranhamento não passa. uma luz azul invade o apartamento, a iluminação fria combina com os arrepios que Asano sente.

A porta de seu quarto se abre, atraindo o cantor, sua cama convidativa, com lençóis azuis, ele aproxima-se hipnotizado. O ser de chapéu preto está atrás dele, o abraçando gentilmente. Luxúria e medo surgem em seus olhos. 

- Não, por favor, não faça isso.

- shiiiiiii

O assassino seca as lágrimas de Asano com seus dedos, o deitando sobre lençois, de pé o assassino saca sua katana, os olhos do artista refletem o brilho azul da lâmina, que aponta para uma arma de fogo.

O cantor fecha os olhos, quando sente o assassino montar sobre ele, treme quando o cano do revólver toca sua têmpora, por fim do disparo.

O corpo de Asano foi descoberto pouco depois, seu cadáver jaz no quarto azul, com uma carta de rei de ouros sobre ele.

sábado, 1 de junho de 2024

Alice Sacrifício Humano Capítulo 03 O Sonho

Alice Sacrifício Humano

 

Um coelho branco percorre um campo verde, sob um céu azul, Kyoko acorda de uma soneca debaixo de uma árvore, quando o mundo gira, ficando vermelho, a garota segue a trilha vermelha.

Misako, trajando uma roupa vermelha, empunha sua espada, retalhando um exército de cartas de baralho.


A cena pisca, um coelho branco humanoide ajoelhado, na direção do infinito, se levanta, seu rosto permanece colado ao chão, fibras de carne ligam o crânio ao rosto se desfazem, o rosto cadavérico da criatura observa Kyoko.

Uma lua sorridente vermelha ilumina Misaki, agora uma marionete, comandada pelo coelho humanoide de face esquelética.


Kyoko se encontra em um bosque, ela segue a trilha vermelha, chegando a uma árvore, onde Misaki está enforcada, diversos coelhos cantam em conjunto, sobre uma Alice intrépida e caçadora, que foi surpreendida por sua caça.

A garota prende a respiração, um ser de roupas escuras está atrás dela, segurando uma espada na mão direita, protegida por luvas pretas.

O coelho humanoide sorri para ela, seus dentes dianteiros são ameaçadores, exibe um sorriso diabólico, os globos oculares vazios transbordam sangue, flores vermelhas se abrem, em um espetáculo carmesim.

Kyoko acorda gritando. 


Ao mesmo tempo, ainda alheia ao assassinato da noite anterior, Yuki se veste para ir ao trabalho, de saia e camisa branca, ela ajeita o blazer, de costas para o espelho, Yuki nunca se olha no espelho quando se arruma.

Seu celular toca mais uma vez, com expressão de tédio ela lê mais um xingamento:

“sua puta preconceituosa, quem você pensa que é?”

“Piranha, tomara que alguém te estupre”

“Você merece ser morta”

Indiferente ela guarda o celular no bolso interno do blazer, dá as costas ao espelho e dai de seu quarto, seguindo para a cozinha, onde se serve um pouco de café, quando o celular toca.

- Bom dia Massami!

- Você ainda não sabe?

- Não me assuste.

- Não tem nada a ver com você, bom agora tem, os diretores a querem nessa matéria.

- Explique - seu tom de voz exprime uma ordem, que faz Massami estremecer do outro lado da linha.

- Uma garota foi assassinada ontem a noite, foi bem bizarro, sua especialidade, estou mandando fotos.

Ela ouve Massami desligando, logo sons de arquivos chegando, encostada na pia ela analisa as fotografias de Misako, “ela era bonita”.


 Na cena do crime a polícia cerca o perímetro, o inspetor Fuyutsuki se encontra ajoelhado na grama, seu sobre tudo roça a grama manchada de sangue, ele fuma, olhando o cadáver de baixo para cima.

Os primeiros raios de sol ultrapassam os galhos de árvore e o cadáver pendurado, Fuyutsuki é obrigado a reconhecer, existe uma beleza ali.

- Inspetor.

- Me diga que encontrou alguma coisa.

- Só essa carta de valete de espadas, sem relação com nenhum baralho.

- Meio grande para uma carta de baralho, pode ter sido feito só para ela.

- Alguma ideia?

- No Tarô valete de espadas é um aviso, para você ter atenção redobrada ou que você vai passar por momentos conturbados no amor. Contudo isso não parece uma carta de tarô.

- O que isso significa.

- Não significa nada, só estava jogando conversa fora.

Fuyutsuki se afasta do outro policial, aproximando-se do cadáver pendurado, ele ouve a perícia dizendo que já terminaram, outro policial apresenta a carteira de identidade da vítima, a qual está com dinheiro e cartões.

- Misako Aoyama, estudante de língua japonesa, faculdade de humanas? Ela…

- Sim, colega de classe do assassino canibal.

- Puta que o pariu! Não quero que vaze para a imprensa.

Fuyutsuki volta caminhando para a trilha, ele ignora os repórteres barulhentos, focando seu olhar para a faculdade no fundo. 


Yuki dirige seu carro até o local do assassinato, logo ela reconhece o caminho, “não pode ser”, ela pensa animada, uma rápida pesquisa no celular e a repórter constata que o corpo fora encontrado próximo da universidade.

O sinal fica verde, enquanto dirige ela usa o sistema de discagem rápida.

- Massami, preciso de um favor.

- Já estamos aqui.

- Ótimo, tenho um palpite, cheque a identidade da vítima.

- A polícia se recusa a divulgar, antes de informar a família, estão chamando de “pessoa a”.

Ela pensa um pouco

- O cadáver está próximo da universidade?

- Sim.

- Me encontre no campus de humanas.

- O que você está pensando?

- É só um palpite, pode ser algo maior, muito maior.

Yuki desliga o celular e acelera o carro: “uma vingança pela criança morta?”, um crime político contra os progressistas?”. Ela sorri pensando que precisa ter certeza.


Na universidade  Fuyutsuki está na frente da sala do deputado e professor, orientador do assassino canibal, sua secretária avisa que o professor não se encontra.

- Eu preciso da lista de orientandos deles, se não for possível basta confirmar um nome. Já pode ser importante para uma investigação.

- Qual nome?

- Misako Aoyama.

A secretária pesquisa pelo nome, logo responde com uma negativa, complementando que ela nunca fez nenhum requerimento ao professor.


Longe dali, Kyoko acompanha a matéria de Yuki comentando sobre o assassinato, a repórter era a única que gravou na frente da universidade e não na trilha onde o corpo fora encontrado.

- Ainda não temos informações sobre a “vítima a” ou o porque seu corpo foi encontrado próximo a universidade…

Uma pessoa grita ao fundo, Yuki olha quatro alunos mascarados atacando, a repórter tenta se defender. Yuki e sua equipe são cercados. A câmera para de filmar.

Yuki é jogada no chão, ela se prepara para a surra, quando alguns policiais surgem, os alunos tentam fugir, com os policiais atrás deles.

Fuyutsuki estende a mão para Yuki, a ajudando a se levantar, ela faz seu melhor sorriso.

- Você está bem?

- Sim, venho sofrendo ameaças nos últimos dias.

- Você mexeu em um vespeiro, não que justifique De qualquer forma o que está fazendo aqui?

- O mesmo que você - Yuki fica um pouco ofendida, mas interessada, raciocinando que aquele policial pode ser sua melhor oportunidade - Então ela é do cursos de humanas?

- Sem comentários.

Os policiais retornam com dois alunos detidos, eles informam que mais dois foram presos.

- A senhora vai prestar queixa?

- Acho que seria um bom exemplo para meus espectadores, eles precisam conhecer os meus direitos.


Naquela noite Kyoko entra ao vivo, ao fundo ouve-se a música “Alice - Sacrifício Humano”

- Boa noite meus amores, fãs de mistério e assuntos estranhos, hoje tenho um assunto muito bizarro para vocês. Todos viram o assassinato recente, próximo a universidade de humanas, a polícia revelou que encontraram um valete de espadas próximo ao corpo. Isso mesmo, quem conhece a música sabe o que isso significa.

Kyoko dá um comando em seu computador, compartilhando a tela com o desenho de uma garota, usando vestido vermelho, carregando uma espada, com um coelho albino ao fundo.


“A primeira Alice era um valete de espadas, veio ao país das maravilhas com sua lâmina! Ela cortou tudo que no caminho encontrou, deixando um rastro vermelho por onde passou, Essa Alice no bosque se perdeu, e como um criminoso lá dentro se perdeu, seu caminho vermelho é tudo que garante, que algum dia ela chegou mesmo a existir”.

- Conseguem perceber as semelhanças? a “vítima a” foi morta com uma espada, quem encontrou o corpo disse que havia um caminho vermelho até um bosque. Além disso temos o valete de espadas, encontrado no corpo dela, se for verdade podemos esperar mais três assassinatos. Espero que não.

Ela termina sua live, depois fica lendo os comentários e sorri com o número das visualizações, Kyoko se levanta para comemorar com uma taça de vinho, o rosto de um coelho branco pisca na tela de seu computador.